Parte do programa permanente de acessibilidade do Supremo, a visitação com a presença de intérpretes de Libras deverá ocorrer uma vez por semana, em dias e horários previamente definidos.

Novidade na visitação do Supremo Tribunal Federal (STF), a tradução para a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) ajuda os deficientes auditivos a conhecer em detalhes um pouco da história da justiça brasileira e o funcionamento da Suprema Corte do país. Divididos em dois grupos, 35 surdos e dois professores ligados à Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (APADA) visitaram na manhã desta sexta-feira (15) o edifício-sede do STF.

Esta é a primeira vez que a visita guiada no Supremo foi interpretada para pessoas surdas. A ideia é que a visitação com a presença de intérpretes de Libras ocorra uma vez por semana em dias e horários previamente definidos. A ação faz parte do programa permanente de acessibilidade do Supremo – o STF Sem Barreiras – que tem por objetivo planejar e a adequar o espaço das dependências da Corte para pessoas com deficiência, reafirmando a importância do respeito às diferenças e à diversidade.

Com pouco mais de uma hora de duração, quatro intérpretes ajudaram os monitores a explicar a atual composição do Plenário, o funcionamento da Corte, bem como as histórias sobre itens do museu, a exemplo do mobiliário produzido pelo jurista brasileiro Pontes de Miranda, além de curiosidades como a cabine telefônica utilizada antigamente pelos ministros. O grupo passou pela exposição de painéis do fotógrafo Sebastião Salgado que integram o projeto “Amazônia”, sobre os povos e a biodiversidade da região, e também conheceu o Salão dos Bustos (onde estão representadas personalidades da história do país em peças de bronze), o Salão Nobre (local em que são recebidas autoridades internacionais) e o Salão Branco (onde acontecem várias reuniões, entre elas audiências com advogados).

Aprendizado

“Não tenho palavras para descrever a emoção que eu estou sentindo em conhecer, pela primeira vez, a história do Judiciário do Brasil. Quero agradecer imensamente essa oportunidade”, disse a surda Mayara Lopes da Mota, que acompanhou com interesse sua primeira visitação no Supremo. “Eu gostei bastante da colaboração dos intérpretes na visita e vou conseguir explicar para a minha família o que eu aprendi”, contou.
Núbia Laismann, que faz pós-graduação em acessibilidade e cultura pela UFRJ, foi convidada pelo Supremo para avaliar e dar sugestões sobre a visitação inclusiva. “Nós surdos brasileiros precisamos conhecer a história do nosso país. Isso engloba o STF que é o guardião da Constituição e também abriga um museu que guarda a memória da Justiça”, salientou, ao acrescentar que é muito bom ver que o STF está garantindo a acessibilidade aos surdos com a presença do intérprete nas visitas. Núbia afirmou que o conhecimento é importante, por isso disse ter ficado feliz pelo aprendizado adquirido hoje.

Aula-passeio

Entre os responsáveis pelo grupo, o professor Júnior de Faria afirmou que geralmente os surdos são marginalizados das atividades comuns da sociedade e, por isso, a APADA promove visitas em locais como o Congresso Nacional, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e, agora, o Supremo. São as chamadas “aulas-passeio”, para incentivar a socialização. “Após a visitação eles ficam animados pela oportunidade de poderem participar desses momentos e depois do conhecimento, vem o interesse”, ressaltou. Ele disse que a associação promove cursos gratuitos para surdos e pagos para ouvintes a fim de manter financeiramente a instituição.

Um dos intérpretes da visitação, Dyego Ramos, do Instituto Federal de Brasília (IFB), considerou que este é um grande avanço para a comunidade surda e “será um despertar muito grande para os surdos”. De acordo com ele, que também ajuda na tradução das sessões plenárias do Supremo, com a presença do intérprete de Libras nas visitas guiadas “o STF está dando oportunidade para que as pessoas surdas conheçam um pouco da história da Justiça e saibam como se organiza a dinâmica dos trabalhos do Tribunal”.

Tradução das sessões

Essa é mais uma ação do Tribunal no sentido de promover a acessibilidade para a comunidade surda. Desde outubro de 2017, as sessões plenárias do STF, realizadas geralmente nas tardes de quartas e quintas-feiras, podem ser assistidas pela TV Justiça com tradução para Libras. A imagem do intérprete de sinais aparece no canto inferior da tela.

EC/EH

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18/01/2019 – Arte, História e Justiça: programa de visitação trouxe mais de 30 mil pessoas ao STF em 2018

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